Olga – Estrelinha
Por muito que queira escolher o último dia, muitas vezes é ele que nos apanha sem contarmos.
O Olga já teve o seu último dia.
E, para nossa tristeza, várias vezes.
Teve o seu último dia no dia em que nasceu, porque o mundo para onde tinha nascido não o merecia.
Teve o seu último dia no dia em que caçou a primeira vez, porque o que ela queria era paz.
Teve o seu último dia no dia em que ficou perdida na rua, porque achou que já não servia para nada.
Teve o seu último dia quando foi recolhida numa associação, porque percebeu que era o fim da linha.
Teve o seu último dia quando o seu dono disse que já não a queria e assinou os papéis de transmissão de titularidade, porque percebeu que já nem para ele servia.
Teve o seu último dia quando a saúde lhe falhou, porque soube que tinha sido uma vida cheia de nada.
Voltou a ter um último dia quando decidiram por ela que tinha acabado, porque uma vida de sofrimento não tem que ser para sempre.
Não sabemos se a Olga algum dia teve um dia feliz. Sabemos que teve uma vida cheia de últimos dias. Teve uma vida vazia de oportunidades. A vida tirou-lhe o tapete vezes demais. A ela e a nós. Nunca desistimos deles. Mas muitas vezes, eles desistem vezes de mais. Estão cansados de últimos dias.
A Olga é o reflexo de tantos animais por canis e associações fora. A vida não lhes sorriu. Esta foi uma vida em vão. Quem devia tirar lições descartou-se na primeira oportunidade. E nós, como sempre, ficámos a segurar a pata naquele que escolhemos para último dia.
Descansa Olga.